A ascensão da China como potência global em inteligência artificial (IA) não é um acidente. Com políticas de longo prazo, investimentos robustos em capital humano e incentivo à inovação, o país asiático já colhe os frutos de um planejamento iniciado há mais de uma década. Enquanto isso, o Brasil começa apenas agora a estruturar suas estratégias nesse campo, enfrentando desafios como falta de infraestrutura, escassez de mão de obra especializada e baixa coordenação entre políticas públicas e setor privado.
O Avanço Chinês na IA: Estratégia, Educação e Inovação
Planejamento de Longo Prazo e Visão Sistêmica
O avanço da China em IA está diretamente ligado à sua visão estratégica iniciada em 2015 com programas como o Internet Plus e Made in China 2025. Esses planos estabeleceram como prioridade o desenvolvimento de setores essenciais para a digitalização do país, como conectividade, data centers, robótica e software.
Em 2017, foi lançado o Plano de Desenvolvimento de Inteligência Artificial de Nova Geração, com o objetivo de transformar a China na líder global da tecnologia até 2030. Até 2023, o país já era responsável por quase 70% das patentes em IA registradas no mundo e por 86% das publicações científicas da área, de acordo com o AI Index Report da Universidade Stanford.
Investimento Maciço em Capital Humano e Pesquisa
Um dos pilares da estratégia chinesa é a formação intensiva de profissionais. A China ampliou a oferta de cursos superiores em IA e até mesmo incluiu a disciplina no ensino básico. O resultado é uma força de trabalho altamente qualificada e pronta para impulsionar a inovação tecnológica.
Enquanto isso, o Brasil conta com apenas cinco graduações públicas específicas em IA. A mais recente foi inaugurada em 2025 na Universidade Federal de Pernambuco. Essa discrepância evidencia o atraso nacional em preparar talentos para o futuro tecnológico.
DeepSeek: Um Exemplo Claro da Força Chinesa na IA
A criação do modelo DeepSeek, lançado pela empresa homônima chinesa, chocou o mercado por rivalizar com o ChatGPT com uma fração do custo e poder computacional. Estima-se que seu treinamento custou apenas US$ 6 milhões, enquanto a OpenAI gastou cerca de US$ 100 milhões na versão mais recente do ChatGPT. O impacto foi tão grande que empresas de tecnologia dos EUA perderam cerca de US$ 1 trilhão em valor de mercado em poucos dias.
Mesmo com limitações em infraestrutura de semicondutores — a China importa mais chips do que petróleo — o país compensa com excelência em matemática, ciência e inovação. Isso mostra que é possível competir em IA sem depender exclusivamente de grandes estruturas físicas, desde que se invista em gente capacitada.
O Brasil Está Atrasado, Mas Pode Aprender com a China
O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA)
Lançado oficialmente em 2024, o PBIA é a principal iniciativa do governo federal para acelerar o desenvolvimento da IA no país. O plano prevê R$ 23 bilhões em investimentos até 2028, distribuídos em cinco eixos principais:
- Infraestrutura e desenvolvimento
- Educação e capacitação
- Inovação no setor empresarial
- Modernização dos serviços públicos
- Regulação e governança
A coordenação dessas ações está a cargo do Comitê Interministerial para a Transformação Digital (CITDigital), reativado pela Casa Civil em abril de 2025.
Desafios do Brasil: Falta de Visão Sistêmica
Especialistas apontam que o principal entrave brasileiro não é apenas financeiro, mas estrutural. A ausência de uma visão sistêmica — ou seja, a capacidade de traçar metas integradas entre governo, universidades e empresas — compromete a eficácia de qualquer plano. Para mudar isso, o Brasil precisa adotar uma abordagem semelhante à chinesa: estudar modelos internacionais, adaptá-los à realidade nacional e garantir continuidade das políticas públicas, independentemente de mudanças de governo.
Diferença no Investimento Privado
Entre 2013 e 2023, o setor privado chinês investiu US$ 119 bilhões em IA, enquanto o Brasil somou apenas US$ 2 bilhões, um volume equivalente ao de países como Áustria e Argentina. Essa lacuna impede que o Brasil crie um ecossistema competitivo, onde empresas disputem espaço por meio de inovação real.
Lições que o Brasil Pode Aprender com a China
- Planejar com décadas de antecedência: A China começou seu projeto de liderança em IA dez anos antes de ver resultados significativos.
- Investir em educação de base: O país aposta na formação de talentos desde o ensino fundamental.
- Apoiar com recursos públicos e privados: O sucesso vem da soma entre políticas estatais e dinamismo empresarial.
- Criar ecossistemas de inovação: Empresas competem com apoio do governo, gerando avanços rápidos.
- Adaptar o que funciona no mundo à realidade local: A China estuda modelos externos e aplica com características próprias.

Conclusão: IA Não Tem Dono, Mas Exige Compromisso
A inteligência artificial ainda é um território em disputa, e o exemplo chinês mostra que mesmo com limitações técnicas, é possível alcançar protagonismo global com planejamento estratégico, investimento em pessoas e visão de longo prazo. O Brasil tem potencial para trilhar esse caminho, mas precisa agir rápido, com políticas públicas coerentes e contínuas, além de estimular uma cultura de inovação que vá além dos muros acadêmicos.
Perguntas Mais Buscadas Sobre IA na China e no Brasil
1. Por que a China está liderando o desenvolvimento de IA?
Porque começou a investir estrategicamente na área há mais de uma década, com foco em educação, inovação e políticas industriais.
2. O que é o DeepSeek e por que ele foi importante?
É um modelo de IA chinês que rivaliza com o ChatGPT, desenvolvido com menos recursos, mostrando que a China domina técnicas avançadas de IA.
3. O Brasil tem chance de competir com China e EUA em IA?
Sim, mas precisa acelerar investimentos, formar mais profissionais e adotar um planejamento de longo prazo.
4. Qual é o investimento do Brasil em IA até agora?
O Plano Brasileiro de IA prevê R$ 23 bilhões até 2028, bem abaixo dos US$ 912 bilhões investidos pela China em setores estratégicos.
5. Qual o maior desafio do Brasil no desenvolvimento de IA?
A falta de uma visão sistêmica e de mão de obra qualificada são os principais obstáculos apontados por especialistas.

Sou Felipe Ayan, um apaixonado pelo mercado financeiro. Desde cedo, me encantei com o poder que o conhecimento financeiro tem de transformar vidas. Ao longo dos anos, mergulhei de cabeça nesse universo, estudando, investindo e compartilhando tudo o que aprendo.