Um novo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela um panorama preocupante para o setor industrial brasileiro, colocando o país na lanterna de um ranking que avalia a competitividade industrial de 18 nações que disputam o mercado internacional. A análise, divulgada com exclusividade ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), considerou oito fatores cruciais que impactam o desempenho das empresas globalmente.
Os três pilares que mais contribuíram para o desempenho negativo do Brasil foram: Ambiente Econômico, Desenvolvimento Humano e Trabalho e Educação. Em cada um desses aspectos, o Brasil amargou a última colocação no ranking. No que se refere ao ambiente econômico, o elevado custo do financiamento no país é apontado como um obstáculo histórico para a indústria, um cenário agravado pela atual taxa Selic em patamares elevados, fixada em 14,25% ao ano.
Diante desse contexto, o setor industrial celebra o lançamento da Nova Indústria Brasil (NIB), a política industrial do governo atual que inclui uma linha de crédito liderada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Contudo, a CNI ressalta que os efeitos desse programa no ranking demandarão um horizonte de tempo maior. Fabrício Silveira, superintendente de Política Industrial da CNI, classifica a NIB como um “avanço considerável”, destacando sua evolução desde o lançamento há um ano, com a previsão de financiamentos saltando de R$ 300 bilhões para R$ 507 bilhões até 2026.
“Estamos falando de políticas que geram incentivos para a transformação técnica, transformação tecnológica em alguns setores. São políticas que vão gerar incentivos, por exemplo, na formação de trabalhadores. A política industrial, no mundo, em geral, demanda de cinco a dez anos para ser avaliada”, pondera Silveira, defendendo a necessidade de o plano se consolidar como uma política de Estado permanente.
O complexo ambiente tributário brasileiro também contribuiu significativamente para a última posição no quesito Ambiente Econômico. A CNI reconhece o potencial de avanço com a implementação da reforma tributária, mas alerta para a importância de uma regulamentação cuidadosa, evitando que exceções tributárias elevem excessivamente a alíquota média do novo imposto sobre o consumo.
O estudo da CNI revela que o Brasil não figurou na primeira metade da classificação em nenhum dos macroindicadores avaliados. O melhor desempenho do país foi observado no aspecto de Baixo Carbono e Recursos Naturais, onde alcançou a 12ª posição, impulsionado pelo bom resultado no subfator de descarbonização, no qual o Brasil ocupa o 2º lugar. A entidade ressalta, no entanto, a necessidade de avanços na economia circular, subfator em que o Brasil apresentou um desempenho insatisfatório.
O ranking de competitividade industrial é publicado pela CNI desde 2010. Nesta edição, a metodologia foi aprimorada, com a redefinição dos países comparados ao Brasil. O estudo agora foca em economias com cestas de produção semelhantes à do Brasil e que competem nos mesmos mercados, tanto em termos de importação quanto de exportação.
Os países que compõem a comparação são: Coreia do Sul, Países Baixos, Canadá, Reino Unido, China, Alemanha, Itália, Espanha, Rússia, Estados Unidos, Turquia, Chile, Índia, Argentina, Peru, Colômbia e México. A compreensão do nível de competitividade desses países em relação ao Brasil e a identificação dos problemas internos a serem atacados são consideradas cruciais no novo cenário global, marcado pela reconfiguração das cadeias produtivas em decorrência da política tarifária de Donald Trump nos EUA.
Apesar do desempenho desfavorável no ranking, Fabrício Silveira, da CNI, destaca a “resiliência” da indústria brasileira. “No meio de um ambiente de negócio e um ambiente econômico que são adversos, que oneram, mesmo assim a gente ainda consegue acessar esses mercados de forma competitiva com algumas das nossas firmas”, afirma o superintendente.
Desafios no Desenvolvimento Humano e Educação
No quesito Desenvolvimento Humano e Trabalho, onde o Brasil também ficou na última colocação, a Coreia do Sul lidera o ranking. Os subfatores avaliados incluem relações de trabalho (Brasil em 16º), saúde e segurança (Brasil em 15º) e diversidade, equidade e inclusão (Brasil em penúltimo lugar). Nas relações de trabalho, por exemplo, foram analisados a razão de dependência e o impacto das regulamentações trabalhistas na atividade empresarial.
O sub-ranking de Educação, que também contribuiu para a última posição geral do Brasil, aponta problemas estruturais na formação educacional, como a baixa adesão ao ensino técnico e o volume insuficiente de profissionais formados em ciência e tecnologia. Nesse fator, a Alemanha ocupa o primeiro lugar.
“A baixa qualidade da educação impacta diretamente no mercado de trabalho e no desenvolvimento sustentável econômico. O caminho é desafiador e inclui a necessidade de recuperação de problemas trazidos pela pandemia e pela guerra, a redução do Custo Brasil, como também o aumento da produtividade e da inovação em todas as camadas da economia”, comenta o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Em outros cinco indicadores, o Brasil também se posicionou abaixo da média no ranking de competitividade industrial. Na performance de Comércio e Integração Internacional, liderado pelos Estados Unidos, o Brasil ficou em 14º lugar, com desafios na integração da indústria ao comércio global, na participação das exportações da indústria de transformação e na exportação de média e alta tecnologia. Na Infraestrutura, um gargalo histórico no país, o Brasil ocupa a 15ª posição, com destaque negativo para a qualidade das rodovias, a baixa densidade da malha ferroviária e a ineficiência portuária.
O Brasil também ficou na 15ª posição no ranking de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Tecnologia. No entanto, no subfator de ciência, tecnologia e inovação, o país obteve um desempenho melhor, alcançando a 12ª posição, impulsionado pelos indicadores de complexidade econômica associada à pesquisa e de investimento em pesquisa e desenvolvimento, nos quais o Brasil ocupa a 9ª e 11ª posições, respectivamente. “Não é todo país do mundo que tem uma estrutura com a capilaridade do Senai, por exemplo. Não é todo país que tem universidades federais que fazem pesquisa aplicada. Também temos bons exemplos de instituições de fomento como a Finep”, ressalta Silveira sobre os avanços brasileiros nesse segmento, apesar do panorama geral desafiador.
Principais pontos do ranking da CNI:
- Brasil ocupa a última posição em competitividade industrial entre 18 países.
- Piores desempenhos em Ambiente Econômico, Desenvolvimento Humano e Trabalho e Educação.
- Custo do financiamento e ambiente tributário pesam no Ambiente Econômico.
- Baixa adesão ao ensino técnico e formação em C&T afetam a Educação.
- Desempenho fraco em relações de trabalho, saúde e segurança e diversidade.
- Melhor desempenho em Baixo Carbono e Recursos Naturais (12º lugar).
- Descarbonização se destaca positivamente (2º lugar).
- Desafios em comércio internacional, infraestrutura e desenvolvimento produtivo.
- Pontos positivos em ciência, tecnologia e inovação, impulsionados por Senai e universidades federais.
- CNI aponta resiliência da indústria brasileira apesar do ambiente adverso.

Sou Felipe Ayan, um apaixonado pelo mercado financeiro. Desde cedo, me encantei com o poder que o conhecimento financeiro tem de transformar vidas. Ao longo dos anos, mergulhei de cabeça nesse universo, estudando, investindo e compartilhando tudo o que aprendo.