Em um cenário de crescentes tensões comerciais entre Pequim e Washington, um jato da gigante aeroespacial Boeing, originalmente destinado à China, foi observado retornando aos Estados Unidos nesta sexta-feira (18). Os dados de rastreamento de voo confirmaram a mudança de rota, um sinal tangível de como a disputa tarifária está impactando diretamente a indústria da aviação e as operações da fabricante americana em território chinês.
A fábrica de entrega da Boeing localizada nos arredores de Xangai, em Zhoushan, tornou-se um ponto central nessa disputa. A unidade, responsável pela finalização e entrega de aeronaves a companhias aéreas chinesas, está sentindo os efeitos da quebra de um status de isenção de impostos que beneficiava o setor há décadas. O retorno do jato, um dos vários que aguardavam os últimos trabalhos e a entrega a uma empresa aérea chinesa no centro de acabamento, é o mais recente indício de interrupção nas operações.
É importante ressaltar que, poucas semanas antes do presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar as tarifas em 2 de abril, a Boeing parecia se preparar para uma continuidade normal dos negócios com a China. Em março, três novas aeronaves 737 MAX voaram da fábrica da Boeing em Seattle diretamente para Zhoushan. Outra aeronave chegou a Zhoushan na semana anterior ao incidente, onde a Boeing realiza a instalação de interiores e a pintura das aeronaves antes da entrega aos clientes, conforme informações do Flightradar24.
No entanto, a situação tomou um rumo inesperado na sexta-feira. Uma das primeiras aeronaves que haviam chegado ao centro de acabamento decolou novamente, sem ter sido entregue a nenhuma companhia aérea chinesa. O voo seguiu de Zhoushan para Guam, um território americano no Pacífico que serve como uma das paradas técnicas para voos transpacíficos, indicando claramente que a aeronave estava retornando para Seattle, a sede da Boeing.
A Boeing optou por não se pronunciar sobre o ocorrido.
A Disputa Tarifária no Centro das Atenções: Impacto nos Negócios da Boeing na China
A viagem de volta da aeronave à fábrica principal da Boeing, percorrendo cerca de 8.000 quilômetros, ocorre em um momento delicado, em que as operações da fabricante de aviões na China estão sob intenso escrutínio devido à crescente disputa tarifária entre os dois países.
A Bloomberg News havia reportado no início da semana que a Boeing enfrentava uma possível proibição chinesa sobre suas importações, como parte da escalada do confronto em relação às tarifas globais “recíprocas” impostas pelo presidente Trump. No entanto, não houve qualquer comentário oficial por parte de Pequim ou da mídia estatal chinesa confirmando essa proibição.
Fontes de alto escalão dos setores aeroespacial e de aviação informaram à Reuters que não tinham conhecimento de quaisquer instruções formais emitidas contra a compra de aeronaves da Boeing pelas companhias aéreas chinesas.
Apesar da ausência de uma proibição formal, fontes e analistas do setor concordam amplamente que a imposição de tarifas por Pequim sobre produtos americanos, em retaliação às ações de Trump, efetivamente bloquearia as importações de aeronaves sem a necessidade de qualquer veto explícito. A aplicação de taxas elevadas tornaria a aquisição de aeronaves americanas economicamente inviável para as empresas chinesas.
Uma fonte graduada do setor chegou a afirmar que a Boeing e seus fornecedores já estão se planejando com base na premissa de que não realizarão entregas de aeronaves para a China por enquanto, dada a incerteza e os custos adicionais gerados pela guerra tarifária.
Detalhes da Aeronave Retornada e Implicações Futuras
Fotografias divulgadas em sites de observação de aeronaves em fevereiro revelaram que o avião que retornou aos EUA ostentava a pintura da Xiamen Airlines, uma companhia aérea cuja maior parte das ações é controlada pela China Southern. Uma fonte indicou que a expectativa era de que a aeronave fosse entregue à Xiamen, que não respondeu aos pedidos de comentários sobre o incidente.
A publicação especializada em aviação The Air Current, que foi a primeira a noticiar a decisão de retirar algumas aeronaves não entregues de Zhoushan, também informou que uma companhia aérea chinesa não identificada havia desistido separadamente de um compromisso de arrendamento de uma aeronave Boeing, um outro sinal do impacto negativo da disputa comercial nos planos das empresas aéreas chinesas em relação à fabricante americana.
Fontes do setor revelaram que o voo de retorno da aeronave ocorreu apesar de algumas discussões internas sobre a possibilidade de deixar as aeronaves não entregues em um depósito alfandegado. Essa medida evitaria que as aeronaves fossem oficialmente importadas e, consequentemente, tarifadas, representando uma tentativa de mitigar os efeitos da guerra comercial. No entanto, a decisão final de retornar a aeronave para os EUA sugere que essa opção não se mostrou viável ou desejável para a Boeing.
A alfândega chinesa não respondeu aos pedidos de comentários sobre a situação das aeronaves retidas ou sobre possíveis soluções alfandegárias.
Um Setor em Recuperação Diante de Novos Desafios
A guerra tarifária e a aparente reviravolta nas entregas de aeronaves ocorrem em um momento delicado para a Boeing. A empresa ainda está se recuperando de um congelamento de quase cinco anos nas importações de seus jatos 737 MAX para a China, resultado de acidentes fatais e de uma rodada anterior de tensões comerciais entre os dois países. Esse novo capítulo da disputa tarifária adiciona mais um obstáculo à recuperação da Boeing no crucial mercado chinês, que representa uma parcela significativa de suas vendas e de seu crescimento futuro. A incerteza gerada pela guerra comercial pode levar as companhias aéreas chinesas a reconsiderarem seus planos de frota e a buscarem alternativas a aeronaves americanas, impactando negativamente a posição da Boeing no longo prazo.
Os principais pontos desta situação incluem:
- Retorno de um jato Boeing da China para os EUA: Sinal de interrupção nas entregas devido à guerra tarifária.
- Fábrica de entrega da Boeing em Zhoushan impactada: Quebra de isenção de impostos afeta as operações.
- Ausência de proibição formal, mas tarifas como barreira: Impossibilidade econômica de importar aeronaves americanas.
- Boeing e fornecedores se preparam para suspensão das entregas: Planejamento diante da incerteza.
- Companhia aérea chinesa desiste de arrendamento de Boeing: Outro indicativo do impacto da disputa.
- Discussões sobre depósito alfandegado não prosperaram: Boeing optou por retornar a aeronave.
- Novo desafio para a Boeing em meio à recuperação do 737 MAX na China: Guerra tarifária adiciona incerteza ao mercado chinês.
A evolução dessa situação será crucial para entender o futuro das relações comerciais entre a China e a Boeing e para avaliar o impacto da guerra tarifária em um setor estratégico como a aviação.
Sou Felipe Ayan, um apaixonado pelo mercado financeiro. Desde cedo, me encantei com o poder que o conhecimento financeiro tem de transformar vidas. Ao longo dos anos, mergulhei de cabeça nesse universo, estudando, investindo e compartilhando tudo o que aprendo.