O avanço da IA e o desafio de saber quem realmente escreveu um texto
Com os modelos de linguagem artificial cada vez mais sofisticados, torna-se quase impossível distinguir um conteúdo gerado por humanos de um criado por inteligência artificial (IA). Isso se aplica tanto ao uso acadêmico quanto ao cotidiano, como ilustra o caso do professor Adriano Machado, da UFMG. Ele usou o ChatGPT para aprimorar uma carta de Dia dos Namorados para sua esposa. O resultado foi tão convincente que, embora ela tenha achado o texto bonito, suspeitou da origem artificial.
Esse exemplo revela uma questão central: a dificuldade crescente de identificar textos gerados por IA, especialmente quando o conteúdo é refinado pelo usuário. A capacidade de personalizar, reescrever e ajustar o tom de voz faz com que a escrita das máquinas se confunda com a linguagem humana — inclusive em português, onde os modelos têm evoluído rapidamente.
Por que é tão difícil detectar conteúdo de IA?
Mesmo com ferramentas que prometem identificar textos gerados por IA com até 99% de precisão, os especialistas alertam: esses sistemas oferecem apenas indícios, nunca certezas. Professores e pesquisadores, como Adriano Machado e Raquel Freitag (UFS), afirmam que as pistas tradicionais — frases genéricas, tom impessoal e ausência de erros — já não são suficientes para garantir um diagnóstico.
Além disso, quanto mais o usuário interage com a IA, mais o texto se afasta do estilo “robótico” e adquire um tom personalizado. Esse processo, conhecido como engenharia de prompt, torna a identificação ainda mais difícil. Na prática, mesmo ferramentas avançadas podem errar ao tentar identificar um texto como sendo artificial ou humano.

IA e a educação: como lidar com os novos desafios
As instituições de ensino estão sendo forçadas a se adaptar à nova realidade. A UFMG, por exemplo, criou uma comissão permanente para discutir o uso ético da IA em sala de aula. Já professores da Unicamp e de outras universidades têm incorporado o uso da tecnologia nos exercícios, pedindo que os alunos descrevam como utilizaram os recursos de IA, promovendo um aprendizado mais consciente.
O principal desafio, segundo especialistas, não é impedir o uso da IA, mas garantir que os estudantes continuem aprendendo. Pesquisas mostram que o uso indiscriminado de chatbots como o ChatGPT pode reduzir a capacidade dos alunos de resolver problemas por conta própria, especialmente em disciplinas como matemática.
Por isso, muitos professores defendem que o papel da IA deve ser auxiliar e não substituir. Quando bem usada, a tecnologia pode reforçar o aprendizado, desde que o estudante entenda o conteúdo e saiba aplicar o conhecimento.
IA brasileira: soberania e precisão contextual
Com o crescimento do uso da IA em diferentes setores, o Brasil lançou, em 2024, o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (2024–2028), que incentiva o desenvolvimento de modelos treinados em português com dados locais. Segundo Rodrigo Nogueira, fundador da Maritaca AI, isso garante soberania tecnológica e maior precisão contextual.
Uma IA treinada com base nas leis, cultura e problemas do Brasil terá muito mais eficácia ao lidar com situações reais do país, em comparação a modelos genéricos. Isso inclui desde órgãos públicos até empresas privadas que desejam reduzir riscos e aumentar a eficiência de suas decisões com base em dados locais.
Travessões, estilo de escrita e a ilusão de autoria
Uma curiosidade que tem circulado nas redes sociais, como o LinkedIn, é o suposto uso excessivo de travessões por modelos de IA como o ChatGPT. Embora essa tendência exista, especialistas alertam que ela não é um indicador confiável. O uso frequente de estruturas formais ou de determinados sinais de pontuação pode, sim, ser reflexo do treinamento dos modelos, mas a simples presença de travessões não confirma a autoria artificial.
Professores com experiência em correção de textos afirmam que, mesmo com leitura atenta, já é difícil saber se um conteúdo foi criado por uma IA — e essa dificuldade tende a crescer com a evolução das ferramentas.
IA como ferramenta de apoio e não como substituta
A questão mais importante, de acordo com pesquisadores, é o uso consciente da IA. A tecnologia deve ser vista como um instrumento de apoio, capaz de melhorar a produtividade, organizar ideias e aprimorar a comunicação. No entanto, se usada como “muleta”, pode comprometer o aprendizado de habilidades essenciais, como interpretação, escrita e raciocínio lógico.
A recomendação geral é que educadores, alunos e profissionais adotem práticas transparentes no uso dessas tecnologias, reconhecendo tanto suas vantagens quanto seus riscos. E mais: que a formação educacional seja atualizada para preparar a nova geração — os chamados “nativos LLM” — que cresceu em meio à IA generativa e já utiliza esses recursos com naturalidade.
O futuro da IA e o fim das fronteiras entre humano e máquina
À medida que a IA se torna mais integrada à vida cotidiana, a distinção entre conteúdo gerado por humanos e por máquinas se torna menos relevante. A questão não será mais “quem escreveu”, mas “o que esse texto representa” e “para que foi usado”.
A tendência, segundo especialistas, é que a IA esteja presente em todas as esferas: educação, comunicação, justiça, saúde e muito mais. O importante, agora, é desenvolver políticas claras, promover o uso ético e garantir que os humanos continuem no centro do processo criativo e crítico.
Perguntas mais pesquisadas sobre identificação de texto gerado por IA
1. Como saber se um texto foi escrito por inteligência artificial?
Ferramentas de detecção podem ajudar, mas não são 100% precisas. Indícios comuns incluem estilo impessoal, repetição de padrões e ausência de erros gramaticais.
2. Existem ferramentas confiáveis para detectar conteúdo de IA?
Sim, há ferramentas como GPTZero, Copyleaks e ZeroGPT, mas todas possuem margem de erro e devem ser usadas com cautela.
3. A IA pode copiar o estilo de escrita de uma pessoa?
Sim. Modelos avançados conseguem simular o estilo de escrita de um autor, dificultando a distinção entre textos humanos e artificiais.
4. Professores conseguem identificar textos gerados por IA?
Em muitos casos, não. Especialmente se o aluno refinar o texto ou usá-lo como base para reescrever com seu próprio estilo.
5. Usar IA para ajudar na escrita é considerado plágio?
Depende do contexto. Se for usado como apoio e o autor estiver ciente do conteúdo, pode ser aceitável. O problema surge quando há falta de transparência ou dependência total da IA.

Sou Felipe Ayan, um apaixonado pelo mercado financeiro. Desde cedo, me encantei com o poder que o conhecimento financeiro tem de transformar vidas. Ao longo dos anos, mergulhei de cabeça nesse universo, estudando, investindo e compartilhando tudo o que aprendo.