A guerra tarifária entre EUA e China não está limitada apenas aos dois países envolvidos. Suas consequências se espalham por toda a economia global — e o Brasil é um dos países que sentem os efeitos indiretos dessa disputa. Segundo estudo recente do Nemea-Cedeplar, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a guerra comercial pode ter um efeito assimétrico sobre a economia brasileira, com ganhos concentrados em algumas regiões e perdas significativas em outras.
Sudeste Acumula Prejuízos Bilionários
De acordo com o levantamento, os estados mais industrializados do Brasil, especialmente São Paulo e Minas Gerais, devem registrar perdas bilionárias. São Paulo, motor industrial do país, poderá ter uma retração de aproximadamente R$ 4 bilhões no PIB, enquanto Minas Gerais deve acumular perdas de R$ 1,16 bilhão. A razão principal para esse prejuízo está na forte exposição desses estados à indústria e à cadeia de importações, que são diretamente afetadas pela reorganização do comércio global provocada pelas tarifas entre EUA e China.
Centro-Oeste e Sul se Beneficiam com o Agro
Na contramão do Sudeste, estados do Centro-Oeste e o Rio Grande do Sul tendem a colher frutos positivos da guerra tarifária. Isso ocorre porque produtos agrícolas brasileiros, especialmente soja e sementes oleaginosas, ganham competitividade em um cenário onde os EUA e a China aplicam tarifas elevadas um contra o outro. O estudo aponta um crescimento de 28,1% nas exportações desses produtos, com impacto direto na produção agropecuária nacional, que poderá crescer US$ 5,5 bilhões.
Esse crescimento ajuda a explicar por que, mesmo com prejuízos na indústria, o Brasil como um todo teria um pequeno avanço no PIB de 0,01% — um reflexo das vantagens comparativas do país no agronegócio. Ainda assim, os pesquisadores alertam que esse ganho é marginal e não representa uma melhoria estrutural na economia brasileira.
Indústria Brasileira em Dificuldade
Os efeitos negativos da guerra tarifária entre EUA e China se concentram em setores industriais de maior valor agregado, que são os mais prejudicados pela retração no comércio global. A produção industrial brasileira, de forma geral, deve cair US$ 8,9 bilhões, enquanto as exportações industriais devem recuar US$ 6,4 bilhões.
Entre os setores mais afetados estão:
- Equipamentos de transporte
- Metais ferrosos
- Carnes
- Laticínios
Esses setores dependem fortemente de cadeias de suprimentos globais, acesso a mercados externos e estabilidade no comércio internacional. A guerra tarifária perturba todos esses elementos, tornando o ambiente mais volátil e incerto para os exportadores brasileiros.
Crescimento do Comércio Brasil-EUA Apesar das Tarifas
Curiosamente, enquanto os efeitos globais da disputa tarifária se intensificam, a corrente de comércio entre Brasil e Estados Unidos atingiu um recorde histórico no primeiro trimestre de 2025, somando US$ 20 bilhões. O aumento de 6,6% em relação a 2024 indica que o Brasil conseguiu ampliar sua participação no comércio com os EUA, mesmo em um cenário adverso.
No entanto, o saldo ainda foi negativo para o Brasil, com déficit de US$ 654 milhões, o que mostra que a balança comercial não se equilibra automaticamente, mesmo com aumento de volume.
Impacto Global da Guerra Tarifária entre EUA e China
Os reflexos da guerra tarifária se espalham por toda a economia mundial. O estudo da UFMG estima que o PIB global pode sofrer uma queda de 0,25%, o que representa US$ 205 bilhões a menos na economia mundial. O comércio internacional deve recuar 2,38%, o equivalente a US$ 500 bilhões de redução no volume de trocas globais.
Entre os países mais impactados estão:
- Estados Unidos: retração estimada de 0,7% no PIB
- China: queda de 0,6% no PIB
- Brasil: leve crescimento de 0,01%, com forte assimetria regional
Esses dados reforçam a complexidade da guerra tarifária entre EUA e China, que vai muito além de tarifas e negociações bilaterais — seus efeitos reverberam por cadeias de produção, políticas industriais e economias nacionais em todo o planeta.

Sou Felipe Ayan, um apaixonado pelo mercado financeiro. Desde cedo, me encantei com o poder que o conhecimento financeiro tem de transformar vidas. Ao longo dos anos, mergulhei de cabeça nesse universo, estudando, investindo e compartilhando tudo o que aprendo.