Com o avanço acelerado da Inteligência Artificial (IA), sistemas como ChatGPT, Copilot e Gemini passaram a impressionar por sua aparente capacidade de raciocinar. Eles respondem com fluidez, explicam ideias complexas e até parecem refletir. No entanto, essa percepção é ilusória. Essas tecnologias não pensam, não compreendem o que dizem e não possuem consciência. O que parece inteligência é, na verdade, o resultado de cálculos estatísticos baseados em grandes volumes de texto.
Como funcionam os grandes modelos de linguagem
A lógica por trás da IA: previsão, não pensamento
Os chamados Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs, na sigla em inglês) são treinados para prever a próxima palavra em uma sequência textual. Com isso, constroem frases com base nas probabilidades de combinação entre termos. Embora a resposta pareça articulada e lógica, ela é apenas a consequência de padrões reconhecidos em milhões de exemplos durante o treinamento.
Segundo os linguistas Emily Bender e Alexander Koller, esses modelos lidam apenas com a forma da linguagem — sem qualquer acesso ao seu significado. Em outras palavras, o que chamamos de resposta é só uma sucessão de palavras estatisticamente coerente.
A ilusão do “pensamento” na IA
Uma técnica recente, conhecida como chain-of-thought (cadeia de pensamento), faz os modelos simularem um processo de raciocínio passo a passo. Isso gera respostas com aparência lógica, reforçando a ideia de que há pensamento envolvido. Mas essa explicação é gerada como qualquer outro texto, sem representar os reais cálculos internos da IA.
A verdade é que, mesmo em questões matemáticas ou lógicas, os acertos se baseiam em padrões previamente reconhecidos, não em regras formais ou processos cognitivos reais. Um relatório recente da Apple evidenciou que as justificativas apresentadas por IAs em problemas complexos são muitas vezes incorretas ou desconexas, mesmo quando o resultado final está certo.
Por que tendemos a humanizar a IA
Pareidolia cognitiva: nossa mente nos engana
Atribuir características humanas a sistemas não-humanos é um fenômeno psicológico conhecido como pareidolia cognitiva. Por exemplo, quando uma IA usa a primeira pessoa ou diz estar “pensando”, nosso cérebro reage como se estivéssemos diante de uma pessoa real. Essa resposta é automática e tem raízes evolutivas, ligadas à nossa tendência a interações sociais.
O problema é que essa antropomorfização gera expectativas falsas. O artigo “The Psychosis of ChatGPT”, publicado pela revista The Atlantic, relata casos de pessoas que desenvolveram vínculos emocionais com IAs, acreditando que estavam interagindo com consciências autênticas.
Substituição de vínculos humanos por simulações artificiais
O uso de IA como substituto de relacionamentos reais — em funções como terapeutas, amigos ou parceiros — pode comprometer a qualidade das relações humanas. Essas interações simuladas são unilaterais: não há reciprocidade emocional, empatia genuína ou compreensão verdadeira, apenas simulações baseadas em texto.
Os riscos de atribuir raciocínio à IA
Impactos práticos e éticos do mau entendimento
Ao imaginar que sistemas como o ChatGPT realmente “pensam”, corremos riscos sérios. Entre os principais estão:
- Superestimar a capacidade de raciocínio da IA em tarefas críticas
- Utilizar esses sistemas em decisões que exigem julgamento humano
- Subestimar a importância da supervisão humana
- Perpetuar vieses escondidos nos dados de treinamento
- Reforçar a opacidade dos algoritmos (conhecida como “caixa-preta”)
Como destaca a pesquisadora Melanie Mitchell, do Santa Fe Institute, atribuir pensamento à IA gera avaliações equivocadas e expectativas desajustadas, o que pode comprometer decisões técnicas, políticas e éticas.
As limitações reais dos modelos de IA
Apesar de suas capacidades avançadas, os modelos de linguagem têm várias limitações:
- Falta de raciocínio causal: não compreendem relações de causa e efeito
- Ausência de senso comum: não têm vivência humana para interpretar contextos
- Memória limitada: não conseguem manter contexto em conversas muito longas
- Alucinações de IA: produzem informações falsas com aparente confiança
- Dificuldade com lógica matemática: respostas corretas podem vir com justificativas erradas
- Nenhuma consciência ou julgamento moral: não fazem distinções éticas autênticas
Como utilizar IA de forma ética e eficaz
Ferramentas úteis, não substitutos humanos
Entender que a IA não possui cognição é essencial para um uso responsável. Os modelos de linguagem podem ser extremamente úteis em tarefas como:
- Produção e resumo de conteúdo textual
- Tradução de idiomas
- Apoio na programação de sistemas
- Automação de processos administrativos
- Apoio em atendimento ao cliente
Quando utilizados com consciência de suas limitações, os LLMs ampliam a produtividade humana, mas não substituem o julgamento, a empatia ou o pensamento estratégico.
Conclusão: clareza para evitar erros
Projetar habilidades humanas em máquinas é um erro comum, mas perigoso. Os modelos de IA não pensam, sentem ou compreendem. São algoritmos avançados de associação linguística — valiosos quando bem aplicados, mas danosos se mal compreendidos.
Adotar uma visão clara e realista sobre o que essas tecnologias podem (e não podem) fazer é essencial para usá-las de forma ética, produtiva e segura. No futuro, nossa maior vantagem será saber exatamente como essas ferramentas funcionam — e manter a distinção entre a inteligência humana e a artificial.

As 5 perguntas mais pesquisadas sobre inteligência artificial e pensamento
1. A inteligência artificial realmente pensa como os humanos?
Não. A IA apenas prevê palavras com base em padrões; ela não tem consciência nem compreensão real.
2. O que significa quando um modelo de IA diz que “está pensando”?
É apenas uma simulação textual. A IA está processando dados estatísticos, não refletindo de fato.
3. Por que atribuímos características humanas à IA?
Por uma tendência psicológica natural chamada pareidolia cognitiva, que nos faz ver intenções humanas onde não há.
4. A IA pode substituir terapeutas ou amigos?
Não com qualidade humana. Ela simula conversas, mas não possui empatia, vínculo emocional ou reciprocidade verdadeira.
5. Quais os riscos de confiar demais na inteligência artificial?
Decisões erradas, exposição a informações falsas, reforço de vieses e perda de contato com interações humanas reais.

Sou Felipe Ayan, um apaixonado pelo mercado financeiro. Desde cedo, me encantei com o poder que o conhecimento financeiro tem de transformar vidas. Ao longo dos anos, mergulhei de cabeça nesse universo, estudando, investindo e compartilhando tudo o que aprendo.