A nova tarifa de 50% aplicada pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros pode causar um impacto profundo na economia nacional. A medida, anunciada pelo presidente americano Donald Trump, tem potencial para reduzir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, afetar o saldo da balança comercial e pressionar o câmbio. Especialistas estimam uma retração de até 0,5 ponto percentual no PIB de 2025, além de perdas bilionárias nas exportações brasileiras.
Segundo projeções do banco Santander, o Brasil poderá registrar uma redução de US$ 9,4 bilhões no superávit da balança comercial em 12 meses, sendo US$ 3,9 bilhões somente em 2025. A queda estimada no saldo é três vezes superior à registrada quando Trump anunciou uma tarifa de 10% em abril, o que já indicava uma tendência protecionista mais agressiva por parte do governo norte-americano.
Como a tarifa de Trump afeta diretamente o crescimento econômico do Brasil
O economista André Valério, do banco Inter, calcula que o impacto da nova tarifa pode reduzir o crescimento do PIB brasileiro em até 0,5 ponto percentual. Ele ressalta, no entanto, que o Brasil é relativamente pouco integrado ao comércio internacional e que os Estados Unidos representam uma fatia limitada nas exportações do país. Mesmo assim, o principal risco está na redução dos investimentos diretos estrangeiros, muitos dos quais são provenientes de grupos americanos.
Já Gustavo Sung, da Suno Research, aponta uma retração entre 0,2 e 0,3 ponto percentual no PIB, concentrada principalmente nos setores mais dependentes do mercado americano, como aviação, carnes e citros (laranja, por exemplo). Ele também destaca que a atividade econômica já vinha sendo afetada por uma política monetária rígida e pela desaceleração do crédito, agravando o quadro econômico.
Exportações em queda: setores mais afetados e impacto na balança comercial
O Santander estima que, caso a tarifa entre em vigor em agosto, o superávit comercial brasileiro sofrerá uma perda de até 7%, caindo de US$ 55 bilhões para cerca de US$ 45,6 bilhões. Entre os setores mais impactados estão:
- Carnes bovinas e de frango
- Suco de laranja e frutas cítricas
- Automóveis e autopeças
- Produtos da aviação
- Café e commodities agrícolas
O economista Felipe Kotinda, do Santander, observa que a demanda americana por produtos brasileiros pode cair até 25% com a nova tarifa. Ele projeta uma retração adicional de 0,2 ponto percentual no PIB de 2025 e mais 0,3 ponto em 2026, embora o banco mantenha a previsão de crescimento em 2% neste ano e 1,5% no próximo.
Desvalorização do real pode amenizar perdas, mas inflação ainda é incerta
Para tentar compensar a perda de competitividade nas exportações, seria necessária uma desvalorização cambial em torno de 5,5%, levando o dólar de R$ 5,40 para R$ 5,75, segundo cálculos do Santander. Mesmo assim, o banco acredita que o câmbio não deve ultrapassar R$ 5,70 de forma sustentada até o fim do ano, o que limita os efeitos inflacionários no curto prazo.
A projeção atual para a inflação de 2025 é de 5,1%. O impacto imediato da tarifa pode gerar uma queda de 0,10 ponto percentual no IPCA, devido ao redirecionamento de produtos para o mercado interno. No entanto, se o dólar se mantiver elevado por tempo prolongado, o IPCA pode subir entre 1,5 e 2 pontos percentuais, elevando os preços ao consumidor.
Efeitos setoriais e alternativas para a economia brasileira
A sócia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, também estima um impacto de até 0,3 ponto percentual no PIB, com efeitos mais intensos nos setores de aço, máquinas e alimentos processados. Ela destaca que o comportamento do câmbio será fundamental para avaliar os desdobramentos econômicos, já que o protecionismo americano pode gerar instabilidade e afastar investidores.
Apesar das perdas potenciais, parte da produção hoje exportada aos EUA pode ser redirecionada ao mercado doméstico, o que ajuda a controlar a inflação de alimentos e produtos industriais, como carne, café e aço. O Brasil também poderá buscar novos acordos comerciais e ampliar parcerias com países da Ásia e Europa, reduzindo a dependência dos Estados Unidos.
Reação do governo e perspectivas para os próximos meses
O governo brasileiro estuda medidas de retaliação com base na Lei da Reciprocidade, como taxas sobre produtos americanos importados, especialmente nos setores finais, poupando itens intermediários. O vice-presidente Geraldo Alckmin já convocou reuniões com lideranças da indústria e do agronegócio para traçar estratégias frente ao “tarifaço” de Trump.
O cenário ainda é incerto. Com o histórico volátil de decisões econômicas de Trump, muitos analistas preferem aguardar novas definições até o início de agosto. O Itaú, por exemplo, estima que a tarifa real fique próxima de 40%, considerando sobretaxas específicas sobre petróleo e veículos. Nesse cenário, a perda pode variar entre US$ 5 bilhões e US$ 16 bilhões, a depender da capacidade do Brasil de redirecionar sua produção.
Conclusão: impacto é relevante, mas o Brasil tem alternativas
A tarifa de 50% anunciada por Trump representa uma ameaça séria às exportações brasileiras, com potencial para reduzir o crescimento econômico e afetar diversos setores-chave. Ainda assim, o Brasil conta com ferramentas para minimizar os impactos: redirecionamento da produção, ampliação de mercados e negociações diplomáticas. O momento exige cautela, articulação estratégica entre governo e setor privado, e monitoramento constante do cenário internacional.

Perguntas frequentes sobre o impacto da tarifa de Trump na economia brasileira
1. Qual é o impacto estimado da tarifa de 50% no PIB do Brasil?
A medida pode reduzir o PIB em até 0,5 ponto percentual em 2025, segundo analistas econômicos.
2. Quais setores brasileiros serão mais afetados pela tarifa dos EUA?
Os setores de carnes, suco de laranja, café, automóveis, aviação e máquinas industriais devem sentir os maiores impactos.
3. O dólar pode subir com a nova tarifa?
Sim. O câmbio pode se desvalorizar até 5,5% para compensar a perda nas exportações, mas não deve passar de R$ 5,70 de forma sustentada neste ano.
4. O Brasil pode redirecionar sua produção para o mercado interno?
Sim. Parte dos produtos exportados aos EUA pode ser ofertada no mercado nacional, ajudando a conter a inflação.
5. O governo brasileiro vai retaliar os EUA?
Há possibilidade de retaliação com base na Lei da Reciprocidade, focando em produtos finais americanos, mas a estratégia ainda está em discussão.

Sou Felipe Ayan, um apaixonado pelo mercado financeiro. Desde cedo, me encantei com o poder que o conhecimento financeiro tem de transformar vidas. Ao longo dos anos, mergulhei de cabeça nesse universo, estudando, investindo e compartilhando tudo o que aprendo.