Em mais um capítulo da tensa relação entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, o mandatário americano voltou a atacar o chefe do banco central, levantando a possibilidade de demiti-lo e criticando a lentidão na implementação de cortes nas taxas de juros. As declarações de Trump reacenderam o debate sobre a autonomia do Fed e os limites do poder presidencial sobre órgãos reguladores independentes, em um momento de frustração com a política monetária vigente.
“Se eu pedir, ele sai”, afirmou Trump a repórteres no Salão Oval da Casa Branca, após expressar sua insatisfação com a atuação de Powell nas redes sociais, acusando-o de ser “lento demais” para reduzir as taxas de juros. “Não estou satisfeito com ele. Eu já o avisei.”
As falas de Trump surgem um dia após Powell reiterar, durante um discurso em Chicago, que o Fed não tem pressa em diminuir as taxas de juros, aguardando sinais mais claros da economia antes de tomar qualquer medida. Powell tem mandato como presidente do Fed até maio de 2026 e como membro do conselho até fevereiro de 2028.
A Independência do Fed em Questão: Limites do Poder Presidencial
As críticas de Trump reacenderam a discussão sobre os limites do poder presidencial sobre órgãos independentes, especialmente após a Casa Branca ter destituído autoridades de outras agências reguladoras, como a Comissão Federal de Comércio, o Conselho Nacional de Relações Trabalhistas e o Conselho do Sistema de Mérito.
O senador democrata Chuck Schumer condenou os ataques, afirmando no X (antigo Twitter) que “um Fed independente é vital para uma economia saudável — algo que claramente não é prioridade para Trump.”
As recentes demissões desafiam uma decisão da Suprema Corte de 1935, que estabeleceu a autonomia de agências como o Fed. Powell, em seu discurso em Chicago, fez referência a um processo em andamento na Suprema Corte que pode redefinir essas regras. “Estamos acompanhando de perto”, disse. “Não acredito que a decisão vá se aplicar ao Fed — mas não sabemos ainda.” Ele reforçou que a independência do Fed está garantida por lei, e que membros só podem ser removidos “por justa causa”.
Economistas da Bloomberg alertaram que, se a Suprema Corte derrubar o precedente de 1935, o Federal Reserve poderá se tornar o único banco central do G7 a ter sua independência legalmente enfraquecida por motivos que não envolvem supervisão bancária.
O Impacto Econômico e Político da Disputa
Apesar da retórica agressiva, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, indicou que o governo só pretende iniciar a busca por um eventual sucessor de Powell no segundo semestre deste ano. Ele também defendeu a independência do banco central, afirmando que é “um bem precioso que deve ser preservado”.
Trump, no entanto, retomou o tom da sua primeira presidência, quando frequentemente criticava Powell por não agir com rapidez suficiente para cortar os juros. Ele voltou a comparar o Fed com o Banco Central Europeu (BCE), que reduziu sua taxa básica para 2,25% nesta quinta-feira. Em publicação nas redes, Trump escreveu que Powell é “sempre tardio e errado” e que “já deveria ter cortado os juros há muito tempo.”
Trump alegou ainda que os preços do petróleo e alimentos estariam em queda, e que os EUA estão “ficando RICOS” com as tarifas impostas a outros países. No entanto, dados oficiais mostram que os preços dos alimentos subiram 2,4% nos últimos 12 meses — apesar da queda superior a 10% no petróleo neste ano.
Powell e a Missão de Ancorar as Expectativas de Inflação
Durante seu discurso em Chicago, Powell reforçou que a principal missão do Fed é manter as expectativas de inflação de longo prazo ancoradas. “Nosso dever é garantir que aumentos pontuais de preços não se transformem em inflação persistente”, afirmou.
Enquanto Trump defende cortes nos juros para estimular a produção doméstica — especialmente em meio a novas tarifas —, muitos economistas avaliam que a inflação ainda está elevada demais para que o Fed afrouxe sua política monetária.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, foi questionada sobre os comentários de Trump. “Tenho muito respeito pelo meu colega e amigo Jay Powell”, respondeu, destacando o histórico de cooperação entre o Fed e o BCE.
Reação do Mercado: Calma Diante da Turbulência
Apesar das declarações inflamadas, o mercado financeiro reagiu com relativa calma. As ações subiram com otimismo sobre acordos comerciais com a União Europeia e o Japão, enquanto os juros dos Treasuries aumentaram levemente. O índice S&P 500 avançava 0,8% às 14h46 (horário local), enquanto o rendimento dos títulos de dois anos subia para 3,80%.
Em resumo, os principais pontos desta disputa são:
- Ataques de Trump a Powell: Presidente dos EUA critica lentidão na redução de juros e levanta possibilidade de demissão.
- Debate sobre independência do Fed: Críticas reacendem discussão sobre limites do poder presidencial.
- Posicionamento de Powell: Reforça autonomia do Fed e necessidade de aguardar sinais claros da economia.
- Impacto econômico e político: Economistas alertam para enfraquecimento da independência do Fed.
- Reação do mercado: Calma diante da turbulência, com alta nas ações e leve aumento nos juros dos Treasuries.
- Comparação com o BCE: Trump critica Powell por não seguir o exemplo europeu.
- Inflação como ponto central: Economistas divergem sobre a necessidade de cortes nos juros.
A tensão entre Trump e Powell coloca em evidência a delicada relação entre o poder executivo e a autonomia do banco central, com potenciais implicações para a economia americana e a confiança dos investidores.

Sou Felipe Ayan, um apaixonado pelo mercado financeiro. Desde cedo, me encantei com o poder que o conhecimento financeiro tem de transformar vidas. Ao longo dos anos, mergulhei de cabeça nesse universo, estudando, investindo e compartilhando tudo o que aprendo.