Até pouco tempo, a rotina dos operadores de petróleo era marcada pela estabilidade, com preços laterais que limitavam as oportunidades de ganho. No entanto, em um período surpreendentemente curto de apenas duas semanas, o cenário se transformou drasticamente. Aquela sonhada volatilidade, antes objeto de desejo, agora se apresenta como uma força turbulenta, exigindo dos especialistas uma capacidade de adaptação sem precedentes diante de choques sucessivos nos preços do barril.
A mudança repentina foi desencadeada por uma série de eventos com forte impacto no mercado global. O primeiro sinal de instabilidade surgiu com o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a implementação de novas tarifas de importação em larga escala. Essa medida reacendeu as tensões comerciais internacionais, gerando incerteza sobre a demanda futura por petróleo.
Menos de 24 horas após esse anúncio, um novo fator adicionou ainda mais complexidade ao cenário. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+) surpreenderam o mercado ao revelar planos para acelerar o aumento da produção de petróleo. Essa decisão, que contrariava as expectativas de muitos analistas, exerceu uma pressão adicional sobre os preços.
O resultado dessa combinação explosiva de fatores foi uma queda acentuada nos contratos futuros do petróleo WTI, a principal referência americana. A desvalorização de quase 7% representou a maior queda diária desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, um evento que já havia causado grande turbulência no mercado energético. Paralelamente, um dos principais indicadores de volatilidade do mercado de petróleo disparou para o nível mais alto em seis meses, sinalizando a intensidade da instabilidade.
A Imprevisibilidade da Volatilidade Atual: Um Obstáculo para Estratégias Consistentes
Apesar do aumento da movimentação nos preços, essa volatilidade repentina e intensa não se traduziu automaticamente em lucros para os traders. A razão principal reside na sua natureza imprevisível, fortemente influenciada por manchetes e eventos geopolíticos de curto prazo. Essa dinâmica dificulta a elaboração de qualquer planejamento estratégico ou a criação de uma visão de médio prazo para o mercado.
George Cultraro, diretor global de commodities do Bank of America, resume bem o desafio: “Não é o tipo de volatilidade que permite montar uma estratégia consistente, porque tudo muda de um dia para o outro. Uma tarifa de 25% pode virar 10%, 5% ou até ser adiada. Isso dificulta a precificação e a gestão de riscos.”
Brent Belote, CIO da gestora Cayler Capital, era um dos investidores que antecipavam um aumento na volatilidade, após um período de calmaria que o levou a diversificar suas operações para o mercado de metais. No entanto, a brusca reviravolta no mercado de petróleo o pegou desprevenido, resultando em perdas em algumas de suas apostas. Em uma carta aos clientes, Belote descreveu a situação como um “desastre”, comparando o impacto a “correr de cara em um muro de concreto”. Ele admitiu ter subestimado a magnitude dos novos anúncios de tarifas de Trump.
Impacto na Liquidez e Estratégias de Investimento em Meio à Incerteza
A alta volatilidade, embora possa gerar oportunidades de negociação de curto prazo, apresenta o risco de prejudicar a liquidez do mercado a médio e longo prazo. A incerteza e a dificuldade em prever os movimentos futuros dos preços podem afastar investidores, que preferem evitar a exposição a um ambiente tão instável.
Dados da analista Tracey Allen, do JPMorgan Chase, revelam que investidores retiraram cerca de US$ 2 bilhões de posições em petróleo e combustíveis na semana encerrada em 11 de abril. Essa fuga de capital demonstra a cautela e o receio dos participantes do mercado diante da imprevisibilidade.
A atividade nos contratos futuros de petróleo retornou aos níveis observados no final de março, antes do aumento da volatilidade. Além disso, o número de contratos abertos de WTI, um indicador do interesse dos investidores, voltou a cair. Essa retração sugere que muitos investidores estão optando por sair do mercado em vez de tentar adivinhar os próximos passos de Trump e seus impactos no setor energético.
Ryan Fitzmaurice, estrategista sênior da Marex, explica esse fenômeno: “Volatilidade baseada em manchetes afasta participantes do mercado. Isso amplia a diferença entre ofertas e demandas e reduz o volume negociado. Isso cria um ciclo de realimentação: mais volatilidade leva à redução de posições em fundos sistemáticos, que ajustam seus tamanhos de aposta com base nos movimentos do mercado.”
Esse cenário de incerteza e volatilidade forçou uma mudança nas estratégias dos investidores. Dados da ICE Futures Europe mostram que fundos de hedge reverteram suas posições em Brent na maior velocidade já registrada na semana encerrada em 8 de abril. Essa movimentação indica uma tentativa de reduzir a exposição ao risco e de se adaptar a um ambiente de mercado altamente imprevisível.
Paralelamente, as apostas compradas em WTI, que indicam uma expectativa de alta nos preços, despencaram para o nível mais baixo desde 2009. Esse contraste acentuado com o pico de seis semanas observado pouco antes da escalada da volatilidade ilustra a rapidez com que o sentimento dos investidores pode mudar em um mercado guiado por eventos e manchetes.
Desde então, um novo elemento de incerteza foi adicionado ao cenário. Trump anunciou uma pausa de 90 dias no aumento das tarifas para diversos países, buscando acalmar as tensões comerciais. No entanto, simultaneamente, elevou as tarifas sobre produtos chineses para 145%, mantendo viva a preocupação com o impacto das políticas comerciais na economia global e, consequentemente, na demanda por petróleo.
A Busca por Estratégias de Risco Controlado e Proteção contra a Volatilidade
Diante da falta de confiança para manter apostas direcionais claras na alta ou na baixa do petróleo, muitos traders estão migrando para posições conhecidas como “spread”. Essa estratégia envolve a negociação da diferença de preço entre dois contratos diferentes, oferecendo um nível de risco mais controlado em comparação com apostas puramente direcionais. Na semana passada, o volume desse tipo de aposta atingiu o maior patamar desde 2007, e no caso do Brent, o avanço foi o mais significativo desde 2020, indicando uma busca por proteção em meio à turbulência.
Além dos traders financeiros, há também sinais de que consumidores industriais, como companhias aéreas e empresas de transporte, estão buscando se proteger da volatilidade dos preços do petróleo. Dados recentes mostram um salto recorde nas posições compradas de swap dealers em contratos de Brent e gasóleo da ICE, um indicativo do aumento na demanda por hedge (proteção) contra futuras oscilações de preço.
A Complexa Dinâmica Técnica do Mercado em Cenário de Choques
Outro fator que contribui para a complexidade do mercado de petróleo é a sua dinâmica técnica. Quedas acentuadas nos preços podem ter um gatilho em eventos concretos, como a imposição de tarifas, mas são frequentemente intensificadas por movimentos automáticos de fundos sistemáticos e do mercado de opções.
Um exemplo ilustrativo dessa dinâmica é o comportamento dos fundos conhecidos como CTAs (Commodity Trading Advisors). Segundo a Bridgeton Research Group, esses fundos mudaram suas posições em WTI para uma venda líquida de 100% em um período de apenas cinco dias após o choque provocado pelo anúncio das tarifas de Trump. Surpreendentemente, pouco antes desse movimento brusco, esses mesmos fundos estavam posicionados para uma alta nos preços, demonstrando a rapidez e a intensidade das mudanças de estratégia em um mercado volátil.
A última vez que o mercado de petróleo presenciou uma virada tão repentina foi após o colapso do Silicon Valley Bank em 2023. Naquela ocasião, o preço do petróleo despencou quase 20% antes de iniciar uma recuperação vigorosa, subindo 40% e alcançando as máximas do ano. Esse cenário, embora turbulento, também proporcionou ganhos significativos para os operadores que souberam aproveitar as oscilações.
John Kilduff, sócio da Again Capital, comenta a atual situação com uma pitada de ironia: “Mercado de lado cansa. Mas agora estamos em um nível novo de dificuldade. Se você gosta de dor e caos, vai adorar o momento.” Essa observação captura a frustração e o desafio enfrentados pelos traders em um mercado que se move de forma imprevisível, impulsionado por eventos externos e reações algorítmicas, tornando a busca por lucros uma tarefa árdua e arriscada.
Em resumo, a atual situação do mercado de petróleo é caracterizada por:
- Volatilidade extrema e imprevisível: Impulsionada por tensões comerciais e decisões da Opep+.
- Dificuldade em criar estratégias de médio prazo: A natureza repentina dos choques dificulta o planejamento.
- Potencial redução da liquidez: Investidores cautelosos podem se afastar do mercado.
- Mudanças bruscas nas estratégias de investimento: Fundos revertendo posições rapidamente.
- Aumento na busca por proteção (hedge): Consumidores industriais tentando mitigar riscos.
- Amplificação dos movimentos por fundos sistemáticos: Reações automáticas intensificam a volatilidade.
Diante desse cenário complexo e desafiador, os traders de petróleo precisam mais do que nunca de agilidade, adaptabilidade e uma gestão de risco apurada para navegar nas turbulentas águas do mercado energético.

Sou Felipe Ayan, um apaixonado pelo mercado financeiro. Desde cedo, me encantei com o poder que o conhecimento financeiro tem de transformar vidas. Ao longo dos anos, mergulhei de cabeça nesse universo, estudando, investindo e compartilhando tudo o que aprendo.