A economia brasileira mostrou estabilidade em fevereiro na comparação com janeiro, de acordo com os dados divulgados nesta segunda-feira (14) pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). O levantamento faz parte do Monitor do PIB, que serve como uma prévia do desempenho econômico nacional até que os dados oficiais sejam apresentados pelo IBGE.
A estagnação no segundo mês do ano, mesmo após ajuste sazonal, evidencia um cenário de enfraquecimento da atividade econômica, apesar de ainda haver crescimento no acumulado de 12 meses. O Produto Interno Bruto (PIB) estimado no período alcançou R$ 2,203 trilhões.
Pressões Internas e Externas Limitam o Crescimento
A coordenadora do estudo, economista Juliana Trece, destacou que os avanços observados na indústria e nos investimentos não foram suficientes para compensar a queda no consumo das famílias, retração no setor agropecuário e o desempenho negativo das exportações. O setor de serviços, por sua vez, ficou praticamente sem variação no mês.
Juliana alerta para o enfraquecimento de componentes importantes da economia, o que evidencia a desaceleração do ritmo de crescimento nos últimos meses. Ela pondera, entretanto, que “mesmo em um ambiente com maiores incertezas externas e tendência de alta nos juros domésticos, o Brasil não apresentou queda no PIB”.
Guerra Comercial e Juros Mais Altos: Desafios Atuais
No cenário externo, um dos fatores que trazem apreensão é o agravamento da guerra tarifária promovida pelos Estados Unidos, sob liderança do presidente Donald Trump. A imposição de tarifas de importação atinge especialmente a China, mas também afeta outros parceiros comerciais, como o Brasil. Produtos brasileiros enfrentarão sobretaxas de no mínimo 10%, sendo que aço e alumínio terão tarifas de 25%. Já para a China, algumas cobranças ultrapassam 100%, e o governo chinês também respondeu com medidas similares.
Internamente, o Banco Central segue com sua estratégia de aumento da taxa Selic, iniciada em setembro, com o objetivo de conter o avanço da inflação. Após nova elevação em março, o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou que poderá promover ajustes adicionais nas próximas reuniões, ainda que de forma mais moderada.
Inflação Acima da Meta Pressiona Política Monetária
A escalada da inflação é um dos principais fatores que motivam a elevação dos juros. Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação acumulada em 12 meses até março é de 5,48%, superando o teto da meta oficial, que é de 4,5% com tolerância de 1,5 ponto percentual. Este é o maior índice desde fevereiro de 2023, quando a inflação anualizada estava em 5,60%.
Com os juros mais altos, o custo do crédito aumenta, desestimulando o consumo e os investimentos, o que reduz o ritmo da atividade econômica — exatamente o efeito desejado como freio para a inflação.
Desempenho Setorial: Alta Modesta e Sinais de Desaceleração
Na análise setorial, o consumo das famílias ainda mostra crescimento, com alta de 2,7% no acumulado até fevereiro na comparação anual. No entanto, o desempenho é inferior ao verificado no trimestre encerrado em novembro, quando o avanço foi de 4,8%.
Outro dado relevante é a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que representa o nível de investimento produtivo no país. Houve crescimento de 8,2% no trimestre móvel encerrado em fevereiro, abaixo dos 10% registrados no período anterior (setembro a novembro de 2024), indicando perda de tração no apetite empresarial por investir.
As exportações, por outro lado, apresentaram retração de 2,8% no acumulado de 12 meses, contrastando com o crescimento de 2,7% registrado em novembro. A queda no desempenho das exportações do agronegócio e da indústria extrativa mineral foram os principais responsáveis por esse recuo.
Divergência entre Indicadores: FGV X Banco Central
Apesar da leitura estável do Monitor do PIB da FGV, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado na última sexta-feira (11), aponta uma leve expansão de 0,4% entre janeiro e fevereiro e crescimento de 3,8% nos 12 meses anteriores.
Ambos os indicadores têm metodologias diferentes, mas são utilizados para acompanhar tendências econômicas antes da divulgação oficial do PIB pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que deve ocorrer no próximo dia 30 de maio, com os dados referentes ao primeiro trimestre de 2025.


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